Um dos novos paradigmas do século XXI é a mudança para uma economia global de baixo carbono. O ano mágico frequentemente citado para a neutralidade de carbono é 2050. Mas a necessidade de gerenciamento de risco climático e a oportunidade de negócios existem hoje.
Tendo percebido que os impactos das mudanças climáticas representam um risco existencial assim como um risco financeiro sistêmico, tanto os governos quanto o setor privado estão tomando medidas para reduzir sua pegada de carbono.
Os governos mais progressistas começam a definir as condições e limites regulatórios que favorecem os modelos de negócios de baixo carbono, por exemplo, por meio de compras públicas verdes, esquemas de precificação de carbono ou tarifas feed-in, conforme buscam implementar seus compromissos do Acordo de Paris. O resultado da recente eleição presidencial americana e o reengajamento dos Estados Unidos resultará em uma nova dinâmica neste processo.
Ao mesmo tempo, sob a perspectiva do setor privado, observa-se um acentuado aumento de consciência entre os consumidores e, com isto, o crescimento da demanda por produtos e serviços amigáveis ao clima. Essas soluções podem gerar uma vantagem competitiva sobre os concorrentes, tanto no que se refere a receita e vendas, quanto no que diz respeito ao acesso a financiamento e à valoração de ativos.
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Larry Fink, CEO da maior empresa de gestão de ativos do mundo, Black Rock, destacou como foco da sua Carta de 2020 aos CEOs a questão das mudanças climáticas, destacando que “risco climático é risco de investimento”. Empresas cujo modelo de negócios está alinhado com a economia de baixo carbono enfrentam menos risco climático e, por sua vez, menor risco de investimento, tornando-as mais atraentes.
Oportunidades para prosperar na economia de baixo carbono
Tudo isso leva a uma conclusão: a economia de baixo carbono é, antes de tudo, uma oportunidade de negócio. Somente na área de energia renovável, a Goldman Sachs estima que as oportunidades de investimento seriam da ordem de US$ 16 trilhões até 2030.
No grande esquema das coisas, a descarbonização envolve mais do que apenas geração de energia renovável e infraestrutura de transmissão e distribuição. Esse processo irá impactar todas as facetas das operações das empresas porque a economia de baixo carbono significa fundamentalmente repensar nossa economia global, desde como transportamos bens e pessoas (ex. eletrificação e transporte em massa), até como alimentamos de forma sustentável a população crescente (ex. sistemas agroflorestais e uma bioeconomia circular), para como produzimos materiais de construção como aço e concreto (ex. captura de carbono e inovação profunda de produtos). Uma abordagem que leve em consideração todas as operações de negócios e preste atenção aos efeitos a montante (upstream) e jusante (downstream) é, portanto, fundamental.
Um exemplo de tal abordagem é a empresa dinamarquesa de energia Vestas. Embora seu negócio principal já seja exclusivamente energia renovável (eólica), a empresa desenvolveu uma meta de redução da pegada de carbono alinhada com um caminho de aquecimento global de 1,5 ° C. A Vestas anunciou sua nova estratégia de “sustentabilidade em tudo o que fazemos”, prometendo a neutralidade do carbono corporativo sem o uso de compensações até 2030, isto envolverá o uso de veículos de serviço elétricos e adquirir apenas energia renovável para suas operações. Seu alvo foi recentemente aprovado pela iniciativa de metas baseados em ciência (SBTi).
Finalmente, a pandemia do Covid-19 e tudo que tem ocorrido durante 2020 servem de alerta adicional para consolidação deste novo paradigma. Até este ano, as mudanças climáticas eram o único desafio de dimensão efetivamente global, algo que se sabia, mas que a maioria das pessoas ainda não se viam afetadas pelo processo. A pandemia, como talvez o segundo desafio de dimensão global da humanidade, chegou aos nossos lares, modificou rotinas de trabalho e de convivência, destruiu empresas e abalou economias. O Covid-19 explicitou importantes vulnerabilidades no sistema econômico tradicional e tem feito com que governos e empresas busquem estar melhor preparados, a serem mais resilientes, de maneira que possam estar aptos a enfrentar choques futuros.